quarta-feira, 18 de julho de 2012

Eu ia pelo Recife Antigo, do Paço Alfândega em direção à Rua do Imperador, quando um carro cinza encostou e buzinou. De dentro dele, vi que uma mãozinha delicada acenava para mim. O vidro se abriu, e do lado de dentro, uma voz feminina me chamou, meio sem jeito; primeiramente, achei que a conhecia. Depois, percebi que nunca tinha ouvido aquela voz antes. Eu trazia na mão quatro livros grossos; todos os quatros versavam sobre Direito Tributário. Acho que a moça não percebeu isto. Meio timidamente - em parte por causa dos livros, em parte por causa dos enormes óculos escuros que a garota usava -, aproximei-me do carro cor de chumbo, que refletia os raios do sol escaldante. Eram onze horas da manhã.

A moça era bonita e muito jovem. Assim que pus o rosto bem próximo ao vidro aberto, notei sua distinta beleza, mas confirmei que não a conhecia. Mesmo assim, sorri. Diferentemente, ela sorriu de volta como quem me conhecesse; lembrou-se de mim. Chamou-me pelo nome, perguntou para onde eu ia. Respondi que estava indo para a Rua do Imperador. Ela então me ofereceu uma carona, mas eu disse que não era necessário. E naquele momento, apesar da grossa aliança de ouro que usava na mão esquerda, a bela moça abraçou o meu rosto e me deu um beijo ardente na boca. Um beijo daqueles, de quem beija loucamente, com saudade de algum passado que nunca esqueceu. Inconscientemente, retribuí; beijei, apalpei, amei. O rio Capibaribe havia penetrado em minhas veias minutos antes, enquanto eu caminhava e... Quatro livros nas mãos, quatro no coração: o rio, o amor, a moça e a poesia.

Depois, como quem procura entender qualquer coisa, perguntei de onde vinha aquilo tudo. A moça não disse nada, mas sorriu. Sorriu, travessa. Como sorriu...

Foi o momento mais erótico da minha vida. 

Acho que, no fundo, no fundo, aquela adorável garota percebeu que eu trazia no peito aberto a vontade incontrolável de queimar todos os minutos da minha vida na mais violenta chama do amor.

Sim... A vida às vezes não passa de um tórrido encontro de corpos às marges do complacente rio da minha cidade.


quarta-feira, 11 de julho de 2012


      Certa vez, alguém compartilhou um link no Facebook (não me djiga!) com uma frase muito interessante. Melhor dizendo, a frase era mais que interessante, era brilhante – nem mesmo o errinho de regência verbal que continha foi suficiente para subtrair o seu brilho. Eu a achei brilhante na ocasião, embora tivesse bebido um pouco quando a li, mas agora, sóbrio e no trabalho, voltei a me encantar pela frase (já conto a razão de ter me lembrado dela hoje). Ei-la:


“Temos empregos que odiamos para comprar merdas que não precisamos."


Consultando o oráculo da modernidade, o bálsamo da curiosidade, a toupeira sagrada dos antigos astecas, enviada por meio de ondas magnéticas até chegar ao século XXI – o Google -, encontrei (não me djiga!) a mesmíssima imagem do link que algum dos meus amigos compartilhou no Face naquela ocasião. Ei-la:



Curti, curti. Confesso que curti. Pra falar a verdade, nunca tinha ouvido falar de Tyler Durden na minha vida (só sei que ele deve ter lido muito Bukowski e Henry Miller), mas descobri no Google que Tyler Durden é o personagem de Brad Pitt em O Clube da Luta (clássico do cinema moderno). Bingo.


Então, deixem eu dizer por que foi que eu me lembrei dessa frase hoje. É que, de manhã, enquanto eu comprava uma caixinha de Halls vermelho na Select do posto de gasolina perto da minha casa, chamou a minha atenção a matéria de capa de um jornal de grande circulação na cidade, a qual metia o pau num rapaz que trabalha numa repartição pública e que deu uma dedada para uma senhora/senhorita que estava sendo atendida por ele. 

Eu não acho certo as pessoas saírem distribuindo dedadas por aí, ainda por cima quando não se conhecem. Não sei ao certo como se deu o caso da dedada do rapaz - nem me importa. Acho uma indelicadeza o sujeito dar dedada para uma mulher, ainda mais em público, pois, como diria Machado de Assis, noutro contexto: o maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.



       Acho que a dedada é um gesto que deve ser evitado a todo custo. É mais apropriado para locais como estádios de futebol, mesas de pôquer, peladas de meio de semana, shows de heavy metal, intimidade de certos casais, etc. E, mesmo assim, com moderação. Mas eu não estou aqui para julgar ninguém. O ponto que eu quero focar nessa história é outro: o sujeito tem que estar ODIANDO demais a MERDA do emprego dele para dar uma dedada a uma senhorita, em pleno ambiente de trabalho, e pior: mesmo sabendo que estava sendo filmado.


      Deus! Esta é uma boa oportunidade para repensarmos um pouco sobre o que estamos fazendo da nossa vida! Estamos permitindo a escravidão generalizada. Não tenho dúvidas de que o desemprego é pior do que qualquer emprego de carteira assinada, mas todo o mundo há de convir que há certos locais de trabalho que são uma DESGRAÇA sobre a terra e que você faria de tudo para NUNCA ter que trabalhar nele! Não tem dinheiro que pague. E não é necessário ter trabalhado lá para saber disso. É igual à água de esgoto: não precisa ter bebido para saber que é ruim. 

Que diabos de regime é este que estamos tentando manter, onde um emprego chateia dois cidadãos ao ponto de eles se agredirem mutuamente e... Desembocarem numa terrível dedada... Filmada... E pra piorar, postada no Facebook...





       O caso foi parar na tv. Quanto ao acontecido, a assessoria de imprensa do órgão público, em nota oficial, informou que (...) "o funcionário já foi afastado do atendimento e chamado aqui à sede amanhã, onde será atendimento pela Diretora de Atendimento ao Usuário e pela gerente de Recursos Humanos, ambas psicólogas. Depois, será encaminhado à Corregedoria."

      Achei a nota bem oportuna. Adorei principalmente a parte que falou do encaminhamento do funcionário às psicólogas, profissionais mais do que indicadas para auxiliar na solução do problema. Problema que, a meu ver, merece atenção de toda a sociedade. Afinal de contas, nós não queremos ter que concordar com Tyler Durden em tudo, queremos?