quinta-feira, 27 de junho de 2013

Napoleão Bonaparte!

Essa semana eu li duas biografias sobre Napoleão Bonaparte. Se você for igual a mim, que adora biografias, vai gostar delas.

Um personagem apaixonante, dono de uma trajetória admirável e inspiradora. Um homem, é verdade, dado às paixões humanas com a inteireza do seu ser. Mas, por outro lado, uma espécie de semideus, convicto da potência de sua centelha divina. Soube como poucos utilizar toda a sua energia em seus projetos.

Isso tudo somado permitiu à criança pobre da Córsega se tornar o homem mais poderoso da Europa do seu tempo. Um vulto tão atraente, que embriagou não só os homens de sua geração, mas também os das gerações vindouras. Explica-se assim que grandes escritores como Stendhal, Vítor Hugo e Alexandre Dumas tenham dedicado centenas de páginas, com verdadeira adoração, ao general que se tornou imperador por meio exclusivamente das suas virtudes - abençoadas, é claro, pela Fortuna que acompanha os homens corajosos.

A linguagem fluida e o foco cirúrgico de André Maurois fazem dessa biografia uma leitura eletrizante. Ponto positivo também para as gravuras, que enriquecem ainda mais o livro.

Soldado por vocação e exímio estrategista, subiu gradativamente na hierarquia militar, até atingir o posto de General. Dali, sua incomum habilidade política o alçou ao posto de Cônsul, após um pequeno golpe de Estado. Por fim, sagrou-se Imperador da França.

Não se pode dizer que o Oficial Napoleão Bonaparte tenha perdido uma só batalha militar na vida, mesmo quando decidiu recuar, em Moscou - e até mesmo em Waterloo, se caiu em seguida, foi porque não quis mais hostilizar a Europa à custa das vidas dos cidadãos franceses.

No campo amoroso, também se pode dizer que foi um homem vitorioso. Bem... Se é verdade que sua primeira esposa, Josefina, a quem devotou amor eterno, o traía sem muito pudor (Napoleão inclusive sabia), nosso herói não será o primeiro nem o último grande estadista a sofrer desse mal da infidelidade feminina.

Cabe, por fim, o registro do autor de cabeceira de Napoleão Bonaparte: Plutarco foi o grande esteio da sua fundação filosófica. E eu, que sou amante dos filósofos gregos, atribuo a esta paixão de Napoleão por Plutarco não um mero detalhe, mas um encontro de almas afins - tal obra, tal inspirador.

Ardente biografia de Napoleão, por Stendhal. A sua devoção ao General, a quem serviu, explica-se novamente pela lei da afinidade das frequências: gênios se arvoram em gênios.


Encontram-se nesse livros as razões suficientes para a legitimidade do mito. Ah! E se Dumas dedicou uma "Biografia Literária" ao Imperador que se auto-coroou, debaixo do nariz do incrédulo Papa Pio VII, é porque até nisso Napoleão se destacou: possuía um relevante talento literário.


"Eh bien, imagino que tenha havido algo de valor naquilo. Mas digamos Waterloo... Era lá que eu devia ter morrido."



terça-feira, 25 de junho de 2013

Hércules e a Hidra.

Em 1.789, estourava na França a Revolução talvez mais impactante de todos os tempos - a Revolução Francesa. Dentre os estudiosos do movimento de alcance universal, há aqueles que defendem que "A Revolução Francesa ainda nem terminou".

Evidentemente, ninguém quer falar seriamente sobre Revolução no Brasil. Pelo menos, aqueles que sabem que, se em 1.789 foi necessário degolar dois ou três milhares de aristocratas e de "traidores da República",  para fazer triunfar a Revolução, em 2013, a morte como meio de se obter direitos fundamentais do ser humano não se coaduna com o novo mundo que queremos construir.

Durante a Revolução Francesa, houve muitas mortes, especialmente durante o período do Terror. Robespierre e Napoleão Bonaparte foram os principais legados políticos daquela época tumultuada da França.


Não vou aqui me aventurar a traçar paralelos entre a Revolução Francesa e os protestos que tomam conta do Brasil desde meados do mês de junho deste ano. Nem tenho condições técnicas para isto. Mas uma coisa eu posso dizer: se há um fator fundamental que conecta os dois momentos históricos, este é a situação insustentável a que o governo submeteu a maioria do povo. Opressão. Brincadeira. Desrespeito. Descaso.

O povo brasileiro tem sido montado desde a época do "descobrimento", tal qual um cavalo no eito, e tem sido esporado desde então, a fim de sustentar uma classe aristocrática que se reveza no poder há mais de quinhentos anos.

Quando um movimento dessa magnitude se levanta num país, só cabem, a meu ver, duas condutas plausíveis. Melhor dizendo, das diversas possibilidades, duas perguntas correm dentro da imediata prudência:

A) O que está havendo (de fato)?
B) Onde isso tudo pode chegar?

Na quinta-feira da semana passada, eu me juntei ao movimento. Movimento que começou como de costume, ou seja, fundado sobre o propósito do passe-livre (MPL), tendo como principais organizadores os partidos de esquerda, especialmente os que têm grande influência no movimento estudantil, dentre os quais podemos destacar o PT, o PCdoB (UJS), o PSTU, o P-Sol, etc.

Todos os anos, para quem não sabem, os estudantes organizam movimentos para protestar contra os aumentos das passagens dos ônibus. É uma espécie de ritual e, ao mesmo tempo, de laboratório para aqueles que têm a política correndo nas veias. Portanto, em 2013, os partidos de esquerda fizeram a mesma coisinha de todos os anos, acenderam a mesma "fogueirinha" de todos os anos, a fim de protestar contra o aumento da tarifa do transporte público. E quando eu digo "fogueirinha", não é no sentido de diminuir ou menosprezar o movimento.

Protestos contra aumentos na tarifa dos transportes são comuns. Durante o protesto de 2007, por exemplo, levei até tiro de bala de borracha  (doi!). O gigante acordou? Onde ele estava enquanto a gente levava bomba de efeito moral no pé-do-ouvido?


Mas... Como já dizia Heráclito de Éfeso: "nada no universo é permanente, exceto a mudança". E assim, ventos inesperados sopraram na planície onde fora acesa a "fogueirinha", e as labaredas se lançaram bruscamente em direção ao solo, ao céu, ao mar, em todas as direções, como se fossem línguas de dragões furiosos, lambendo com fúria tudo ao seu redor. Em poucas horas, o fogo se alastrou e fugiu ao controle dos primeiros manifestantes. O combustível do incêndio? Décadas e mais décadas de esquecimento e exploração do povo brasileiro. O veículo do combustível? A internet, as redes sociais - o Facebook.

Mark Zuckerberg, criador e administrador do Facebook, apoia os protestos no Brasil. Bom ou ruim? Sei lá! Eu sempre penso que os americanos não desejam nossa emancipação política.

Assim, o movimento, que era para ser "do passe-livre" (tarifa zero para os ônibus) - bastante pontual, portanto - tomou dimensão muito maior do que o esperado - tanto que os primeiros manifestantes trataram de tirar o time de campo, tão logo tomaram consciência do ninho de vespas o qual tinham atiçado.

Mas, por que esses primeiros manifestantes, supostamente mais politizados, tiraram o time de campo no exato momento em que o povo saiu das arquibancadas e partiu para a marca do pênalti, com mais afã do que um beduíno quando encontra um poço d'água no meio do deserto?

Simples: porque eles JAMAIS quiseram estabelecer o caos no país. Quando os rapazes e as moças, capitaneadas pelas raposas velhas dos movimentos sociais de base, perceberam que o coquetel molotov era mais quente que o sol, pegaram a saída do vestiário e deram no pé. Em outras palavras, perceberam que o feitiço poderia virar contra o feiticeiro - como de fato parece que virou. Porque o movimento saiu do controle de todo o mundo. Neste exato momento em que escrevo esse post, ele está fora de controle, e Deus, na sua eterna sabedoria, é quem impede que a massa faminta promova vingança contra os políticos corruptos que assolam o país há décadas.



O protesto dos brasileiros é, acima de tudo, contra os desmandos da lógica de mercado, somado à brutal corrupção que sempre foi tratada com impunidade no nosso país. Caros amigos, se nos aparece um Robespierre ou mesmo um Rousseau, eu penso que muita cabeça tinha rolado pelas rampas que conduzem ao Congresso Nacional... Mas, não. Curiosamente, coube a uma multinacional, ferida em seu orgulho marqueteiro contra outra montadora, elaborar a propaganda televisiva que detonaria a bomba-relógio. Quem diria que a FIAT seria responsável pela propaganda, contendo a mensagem subliminar que tirou o povo brasileiro das arquibancadas e o levou às ruas para protestar, em plena Copa das Confederações?







Pois é. Os mais céticos dizem que tudo vai dar em nada, porque não existe uma pauta clara de reivindicações por parte dos manifestantes. Outros apontam a despolitização do povo como fator principal de provável insucesso do movimento. Eu, de minha parte, me junto à turma que olha tudo com espanto e cautela, misto de alegria com tristeza, e atribuo a uma razão superior o vendaval que agita o nosso país. Queremos mudança de postura. Homens melhores estão se formando, e estes novos homens bons querem que a velharia corrupta se mande daqui. Sem violência, é claro. Mas que se mandem.

Se os movimentos fascistas golpistas (eles se sabem) pretendem se aproveitar do momento para fazer o que sabem fazer de melhor - dar golpe -, é bom se ligarem que os mesmos jovens que podem ter dado abertura à ideia do golpe estão dispostos a entregar a vida pela democracia. Da mesma forma, políticos que se aventurem a surfar na onda dos protestos podem fatalmente se chocar contra os corais que repousam ameaçadoramente no fundo do oceano.

O oceano é cheio de mistérios, principalmente quando está em procela. Já dizia meu pai: mar não tem cabelo.

O componente metafísico que anima a coletividade brasileira despertou. O gigante, na verdade, não acordou, porque não dormia inteiramente; apenas as células dos seus órgãos que ainda dormiam é que despertaram.

A internet está para nós assim como o fogo esteve para os nossos ancestrais. Ajudou a clarear a coisa toda, graças ao sacrifício de Prometeu. Com tudo mais claro, apanhamos a hidra de calças curtas, escondida nas trevas. Ei-nos agora, com a força de um Hércules.

Não é Revolução: é Evolução.