sábado, 11 de janeiro de 2014

Foi emociante, D., quando você me confessou que queria ficar comigo porque "precisava de amor".

Poucas vezes na minha vida ouvi uma frase com tanta dor, sinceridade e esperança.

Você me disse isso quase entre lágrimas. Lembro da expressão comprimida do seu rosto, e suas mãos de náufraga, que se agarra a um pedaço de madeira que flutua, no meio do oceano.

"Eu preciso de você porque eu preciso ser amada."

Mas é uma grande pena que você tenha precisado que eu a amasse quando eu já não era capaz de amor - logo eu, que antes te amei tanto. Tanto, tanto, que poucas vezes amei tanto uma mulher na vida.

Nunca pensei, D., que o desamor acostumasse tanto quanto o próprio amor. 


As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Drummond.