quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Certo dia, o diabo resolveu lançar um plano na Terra para conquistar algumas almas, porque achava que o inferno andava meio vazio.

Pensando nisto, ele mandou chamar uma equipe de uns cinco ou seis diabinhos:

- Ouçam, eu estou planejando uma ofensiva na Terra para conquistar algumas almas. Estou achando o Inferno vazio demais - disse o diabo. - Para isso, quero que vocês deem uma volta por aqui e me tragam alguns dos nossos piores inquilinos. Vou ressucitá-los na forma de seres humanos, pois assim o apelo será bem maior. Entenderam?

- Sim, chefe - responderam os diabinhos.

- Ótimo. Vão e procurem os piores que acharem. Tragam-me o máximo que encontrarem. Aquele que trouxer a maior quantidade de "almas sebosas" ganhará 30 dias de férias no Tribunal Regional de Trabalho da 6.ª Região, em Pernambuco.

Os diabinhos se dispersaram rapidamente, cada qual para um lado do Inferno. Ansiosos pelo prêmio, fuçaram cada masmorra, cada caldeirão fervente e não sossegaram durante os três dias de prazo que fora dado pelo capiroto. Queriam juntar a maior quantidade possível de almas "sebosas".

Acontece que um dos diabinhos, ao final do primeiro dia, passou a chave no seu armazém e se pôs a descansar, enquanto que seus irmãozinhos continuavam dando um duro desgraçado. Ao ver a folga do seu irmão, os diabinhos começaram a ameaçar denunciá-lo ao patrão quando chegasse a hora, por causa de sua preguiça. O diabinho, porém, nem ligou, e passou os outros dois dias apenas dormindo e tomando seus drinks Blood Mary.

Ao final do prazo, como era esperado, todos os diabinhos se dirigiram ao escritório do Diabo, cada qual conduzindo seu pequeno exército de espíritos-de-porco. Diante deles, o próprio Diabo, com um caderninho, encarregou-se de fazer a contagem.

- Adolfo, quantos conseguiu? - perguntou o capeta.

- 1.689, meu Senhor.

- Excelente.

- Judas, você?

- 3.987, meu Senhor.

- Esse é o meu garoto.

- Cardeal Quintiliano, você, quantos me trouxe?

- 998, meu Senhor.

- Muito mal, hein, rapaz?

- Perdão, meu Senhor.

- Jenner Mont'Blanc, quantos, meu jovem?

- 4.013, meu Rei.

- É isso aí, meu querido. Eu sabia que esses seus olhinhos azuis me trariam bons frutos. Agora só falta o Gilmar... Gilmar?! Onde está você, meu filho?

- Aqui, chefe, na sua frente - respondeu Gilmar, o famoso diabinho que ficara descansando, enquanto os outros irmãozinhos trabalhavam.

- Espere aí, meu filho, deve estar havendo algum engano. Quantos você tem aí? - perguntou o Diabo, vendo que ele trazia pouquíssimas almas, comparando com os demais.

- Trezentos, meu Senhor.

Nesse momento, todos os diabinhos começaram a gritar furiosamente:

- Ele ficou o tempo inteiro dormindo, Excelência, enquanto nós nos matávamos de trabalhar! Dormindo e tomando Blood Mary! Safado! Preguiçoso! Merece ir para o caldeirão!

O Diabo, muito contrariado diante daquelas denúncias, pediu que o diabinho se defendesse:

- Gilmar, meu jovem, é verdade o que seus colegas estão dizendo?

- Sim, senhor. Trabalhei apenas um dia e nos outros dois, descansei e bebi Blood Mary.

- Para o caldeirão! - gritou o cardeal, exaltado.

- Um momento - advertiu o diabo. - Por que fez isto, rapaz? Você não sabe que é crime passível de caldeirão desobedecer às minhas ordens?

- Sim, senhor.

- Não sabia que em caso de insubordinação, eu posso até mesmo pedir autorização ao Altíssimo para reencarná-lo como boia-fria, professor, índio ou até mesmo pensionista do INSS no Brasil, para que sofra bem muito na Terra?

Os diabinhos estremeceram.

- Sei, sim, senhor.

- Então, por que me desobedeceu? - perguntou o diabo.

- Mas eu não desobedeci ao senhor de maneira alguma, meu Rei.

- Mentiroso! - gritou o cardeal. Os outros acompanharam. O Diabo mandou que se calassem.

- Meu filho - prosseguiu o capeta -, sejamos francos. Seus irmãos trouxeram, cada um, cerca de mil, duas mil, quatro mil almas... Passaram três dias sem comer e sem dormir... Enquanto isso, você me chegou aqui com míseras 300 almas, dentre as quais certamente metade não será aprovado após o programa de treinamento. Como é que você pode dizer que não desobedeceu ao seu Chefe?

- Senhor... É verdade que eu trabalhei menos que meus irmãos...

- Comunista miserável - rosnou o cardeal. O Diabo advertiu que todos se calassem. O diabinho continuou:

- E é verdade que lhe trouxe também pouco mais de 300 almas, um número muito abaixo que o dos meus irmãos.

O capeta balançou a cabeça. Nesse momento, o cardeal pediu permissão para chamar o encarregado do Setor de Caldeiradas Punitivas.

- Espere, cardeal - interrompeu o capiroto. - Vamos deixar que o acusado termine sua defesa.

- Pois bem, chefe, como eu dizia, é verdade que eu trouxe pouquíssimas almas.

- Estou vendo.

- Mas estas poucas almas que aqui eu lhe apresento são dignas da premiação que o Senhor nos prometeu e, não, de qualquer punição ou castigo.

- Herege! - bradou o cardeal. O Diabo, perdendo a paciência, fez nascer na boca do cardeal uma focinheira. Os outros diabinhos tremeram de medo e calaram-se imediatamente.

- Agora não fala mais. Prossiga. Está sugerindo que eu devo premiá-lo com os 30 dias de férias no TRT da 6.ª Região, em vez de puni-lo, mesmo você confessando ter "matado" dois dias de trabalho e ter me trazido essas almas minguadas? Como pode me pedir uma coisa dessas?

O diabinho franziu as sobrancelhas e, em sinal de vitória, solenemente respondeu:

- Senhor, é que enquanto meus irmãos percorriam os quatro cantos do inferno, à procura de almas sebosas, eu acessei o nosso Arquivo Central e captei apenas os advogados previdenciaristas, os deputados federais e os jornalistas criminais.


Genocídio: é com a gente mesmo.

http://vimeo.com/32440717.

Genocídio: a gente vê por aqui.

Brasil, um país de Todos. Todos os crimes.

Índios: há quinhentos anos servindo à escravidão.

Monocultura e Brasil: há quinhentos anos produzindo miséria.

O que há de comum entre Hitler e os presidentes do Brasil? Ambos fingem que não praticam genocídio.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

De volta

Voltei a fazer um blog. Tinha apagado o anterior, para evitar que "os pneus esvaziassem", como diria Bukowski.

Mas voltei porque senti o risco de morrer se não publicasse. Escrever, eu continuo escrevendo, mas, em primeiro lugar, escrever é uma coisa e publicar é outra; então eu queria dizer a vocês que a miséria da editora Bagaço me mandou um orçamento de R$ 5.800,00 (cinco mil e oitocentos Reais) para publicar o meu pobre livro de narrativas (eróticas).

Desgraçados, deveriam pagar pelo meu livro!

Some-se a isto o fato de que a crise na Grécia está terrível e nem sinal de Zeus, Atena, Apolo e etc. Deixaram os pobres gregos na mão e cadê Teseu, Alexandre, Heitor, Ulisses e companhia limitada? É... Se o gregos tivessem levado Sócrates e Platão mais a sério, não se encontrariam no buraco onde se enfiaram.

E também tem me angustiado bastante a certeza de que a Europa se prepara para declarar guerra a algum continente para poder se reerguer da crise econômica. Como a América Latina não se deixa mais roubar - ou pelo menos não se deixa roubar como antes - os europeus terão de arranjar outros países para escravizar. Na melhor das hipóteses, vai sobrar para os africanos. Na pior, a pipoca do Oriente Médio vai estourar. Não seria precipitado colocar o guaraná Antarctica para gelar.

Me ocorreu agora a ideia de fazer um post sobre o melhor de 2011. Bem, o melhor de 2011 foi ter chegado 2012, porque, para quem não sabe, havia um rumor esotérico de que um tsunami varreria o litoral brasileiro (lascava Recife), mas o tal tsunami não veio. Portanto, eu e todos os recifenses poderíamos ter morrido no reveillón. Afogados! E eu virei o ano em Porto de Galinhas, ou seja, na beira do mar... Rapaz, estar escrevendo este post já é uma glória!

2011 para mim foi o seguinte:

O melhor filme foi Melancolia. Se bem que o mundo lá acabou (ou não). Mas o banho de lua de Kirsten Dunst valeu a pena.

O melhor disco foi Refazenda, de Gilberto Gil.

O melhor show foi o da OSESP no teatro do parque Dona Lindu, e o pior teatro foi o do parque Dona Lindu, que também ganhou o troféu de pior parque do mundo e de pior plateia do mundo - durante o concerto da OSESP, cujo violinista convidado, Augustin Hadelich, foi o melhor violinista de 2011. Por sinal, é o único que eu conheço.

O melhor DVD foi o dos 3 Tenores em Los Angeles.

A melhor namorada foi... Foi... Digo, ficante. Foi... Foi... Enfim, vamos pular esta parte. 2011 não foi um ano muito propício para o amor.

O melhor jogo de PS3 foi Fifa 12.

O melhor livro, O Vermelho e o Negro, de Stendhal. O pior, não me ocorre nenhum.

A pior vendedora foi a da Saraiva, que afirmou que não tinha na loja a Ópera de Tristão e Isolda, quando na verdade havia um exemplar na prateleira.

O melhor site foi um que eu encontrei, onde eles vendem CDs e DVDs antigos. Chama-se Faunus Discos.

A melhor viagem foi a São Paulo (curso de Filosofia).

O melhor museu foi o de Arta Sacra. E a melhor revista foi a Le Monde Diplomatique, junto com a Cult, vá lá. E pronto.

Isso é tudo.

No mais, continuo odiando os processos e, um pouco menos, os clientes.

Este ano é de eleições para prefeito e vereador, ou seja, na terra de Pinóquio, quem tiver desvio de septo, será prefeito, com a licença do trocadilho.

No mais, veremos como as coisas se desenrolam.

E lembrem-se: estudar não é garantia de se dar bem na vida. Reveja seus conceitos.

Em 2012, espero voltar a ter esperanças no amor e na humanidade. Emagrecer, rever o grau da minha miopia, diminuir ainda mais a bebida, publicar meu livro e terminar a peça de teatro que estou escrevendo. Ah, e ser menos filho da puta do que fui em 2011.

É isto.

O resto, deixarei para o acaso. Embora eu saiba que nada é por acaso.