quinta-feira, 29 de março de 2012



Rapaz, eu vou lhe dizer uma coisa: chega uma hora em que o cidadão pega a vida pela gola da camisa e diz: "Chega, caramba!".

Eu disse isso à minha vida, sexta-feira, na saída do escritório, enquanto aguardava a moça do décimo andar descer para tirar o carro dela de trás do meu. Mentira, eu disse pior, eu chamei ela de sua p%#@rra (a vida e, não, a moça). Vão desculpando o palavrão.

Enfim...

O ato de dizer à vida que "chega de tanto ela o sacanear", é quando você começa a compreender que na verdade, a vida não o sacaneia. Nem a você nem a ninguém. Só existe uma pessoa que te sacaneia, no final das contas. Você mesmo.

Você já parou para pensar que o lugar que você está ocupando agorinha mesmo foi você quem escolheu? Hã? Duro de pensar assim, não é mesmo? Ora, é muito mais fácil colocar a culpa dos nossos fracassos nas costas dos outros: do nosso chefe, dos nossos pais, do nosso professor, de Deus, do frentista do posto, do sorveteiro, da vida... Menos nas nossas próprias costas.

Importante frisar que este que vos fala não se considera de maneira nenhuma um sujeito plenamente realizado. Quero dizer com isto que, se você é daqueles que SABE que tem alguma coisa para mudar na sua vida mas (ainda) não teve CORAGEM de colocar isto em ação, eu me identifico com você. Nós estamos no mesmo barco, comendo do mesmo pirão. Pirão meio fraco, inclusive... Sem tempero... Parece que foi feito sem amor.

Amigão (amigona), nós somos responsáveis por tudo o que acontece na nossa vida. T-U-D-O. Do corte de cabelo até o emprego que desce mais quadrado do que a bola do Quico, tudinho é de nossa responsabilidade. E francamente, de nada adiantam as novelas mexicanas que nós porventura criamos na cabeça, com direito a "adeuses, mundo cruel", e tudo o mais.

Chefe, o universo não vai esperar por você, não. O trem está parado na estação, de portas abertas para você. Mas a decisão de entrar ou não, é sua. Sua somente. Esqueça sua namorada, seu noivo, seu râmister, sua mãe neurótica, seu primo mentiroso, seu colega de trabalho filho da mãe, seu sei lá mais o quê e decida! Pegue o trem. Meta a tesoura na cartolina. Desenhe uma nova história. Mude as tintas, mude a tela, mude a técnica, assuma seu papel de pintor da aquarela.

Eu sei que não é fácil. Escrevo esse post olhando bem para dentro de mim mesmo. A cada letrinha que aparece na tela do computador, eu desejo que a mensagem se codifique no meu cérebro e impulsione minhas próprias ações.

E eu falei tudo isso para dizer apenas uma coisa. Uma coisa que, na verdade, nós ouvimos todos os dias da boca das pessoas mais especiais do mundo. Muitas grandes mentes já falaram antes. Os artistas verdadeiros não se cansam de dizê-la. E todo o mundo que é feliz repete infinitamente a tal coisa. Porque é preciso repetir. Se não fosse, a humanidade não estaria repetindo-a insistentemente há dez mil anos.

Repetimos como que querendo nos convencer dessa verdade. A mais forte verdade. A mais bela. A mais urgente. A que deixa coloca nosso coração diretamente em contato com Deus:

É preciso correr atrás dos nossos sonhos.






sábado, 17 de março de 2012

Domando a nossa fera

A maioria das pessoas têm alguns probleminhas de personalidade. Umas confusõezinhas mentais, podemos dizer assim. Eu não sou diferente dessas pessoas. Tenho meus problemas. Muitos deles, eu tenho conseguido trazer à consciência. Gradativamente, tenho lançado luzes no meu inconsciente, na tentativa de detectar onde e por que é exatamente que meus medos se manifestam. Mas essa não é uma tarefa nada fácil.

O medo é fruto da ignorância.

Quando ignoramos uma coisa, temos medo dela. Quando ignoramos uma coisa por muito tempo, ela passa a nos destruir. Como a morte, por exemplo. Porque a ignoramos, passamos a vida toda com medo dela, angustiados com o dia em que ela vai chegar. Porque ela vai chegar. Invariavelmente. Essa angústia é tão grande que a gente não pode nem ouvir falar no assunto. E gera ansiedade. Ansiedade é quando a gente reconhece uma coisa e não tem coragem de enfrentá-la. E aí a destruição vem em dobro, porque a ansiedade nos leva a agir como presas acossadas pelo predador, que é a vida.

O ser humano é uma fera cujo principal alimento é a ignorância. Quanto mais ignoramos, mais bruta e devoradora de almas se torna essa fera. E essa fera (eu lhes asseguro), sente mais fome quando é jovem, época em que ela é também mais forte e vigorosa. Portanto, é preciso conhecer para alimentá-la.

Você não espera manter à base de mingau um leão, espera?

Em outras palavras, quanto mais ignoramos, mais medo temos de viver; quanto mais medo ao viver, mais angústia e ansiedade; quanto mais ansiedade, mais bobagens nós fazemos com a nossa vida.

Acontece que Deus é Bondade - o bom Deus nos dá tudo aquilo que nós pedimos de coração. E é por isso que a ignorância pede perdão. "Deus protege os bêbados e as crianças, porque eles não sabem o que fazem." E à frente, nós vamos. Porque a ignorância são as trevas, e o conhecimento é a luz. Embora doa nos olhos. E na alma. Lá no fundo.

O que é preciso, então, para ser feliz? Eu penso que para isso é necessário conhecer nossos demônios. Sim, nós temos demônios, do grego daimónion, gênio inteligente que preside o caráter dos homens. E é preciso identificá-los para combater com eles. Ao lado ou contra eles. Mas combater.

Porque Deus (não importa o que você chama de Deus) escolheu esse corpo para nele fazer combates de dualidades: frio e quente, doce e amargo, alegre e triste, homem e mulher, amor e ódio, razão e emoção, entre outras coisas. O ser humano é a luta da carne com o espírito. Bem-aventurados são aqueles que obtêm o equilíbrio entre essas duas faculdades. É algo que eu desejo. É algo que eu busco. É minha luta.

Outrora meus demônios eram as mulheres. Ainda são, na verdade, só que menos. Domei um pouco essa ânsia por seus cabelos volumosos, seus seios firmes, suas mãos delicadas, seus dentes brancos, seus olhos rasgados, sua boca flamígera, suas pernas esticadas, seus perfumes doces, sua pele macia, seus balançares de flancos, suas mentiras, suas lágrimas melífluas e, principalmente, sua obsessão por serem desejadas, amadas e compreendidas a todo o instante.

"A menor das diferenças entre homem e mulher é a biológica", um amigo me disse outro dia.

Mas há outros demônios: e todos fazem morada no ego. Eles vêm de acordo com o seu tamanho: mulheres; dinheiro; posição social; ego; espírito; equilíbrio; e virtude. Ego de egoísmo. É preciso travar duelos com coragem. E a arena é dentro. Dentro da gente.

Conhecimento é a única forma legítima de libertação.