Não sei onde foi que eu li que os 2.000 anos da era cristã acabaram muito mal, e que esse "vácuo" deixado pelas malditas religiões está sendo preenchido pelo sexo. Leia-se: pela pornografia.
Quando a arte deixa de imitar a vida e passa a incorporar os elementos da realidade na sua própria feitura, é sinal do fim dos tempos, ou seja, de que chegamos no limite do contemporâneo, e que uma mudança radical está para se operar.
A fruta já está amadurecida, a lagarta está pronta para virar borboleta.
O novo filme de Lars von Trier, "Ninfomaníaca", traz uma cena (ou mais) de sexo entre os atores. A coisa aconteceu de verdade. Quando eu soube disso, eu me fiz logo a seguinte pergunta: por que os atores têm que transar de verdade no set de filmagem, visto que não se trata de um filme pornográfico? Ou se trata? Ou a vida está tão medíocre que a arte não tem mais o que imitar, sugerir?
Vamos lá, vamos lá! Aonde o sexo quer nos levar?
Você, que agora me lê, é do tipo "sexo anal com manteiga em Último Tango em Paris", sexualidade onírica de Eva Green em The Dreamers, ninfoleptia de Lolita, ou virgindade pura e pagã de Liv Taylor em Beleza Roubada? Ou triângulo amoroso, esborrando sensualidade e beleza, em Vicky Cristina Barcelona?
Quando o artista suja a arte com o seu próprio objeto, é hora de mudar. Acho que Lars von Trier é o maior cineasta vivo, o único sujeito que faz vibrar em seus filmes a filosofia ácida e rebelde de um Nietzsche, por exemplo. Portanto, ele é o satélite cujo sinal a gente tem que prestar atenção. A situação inspira cuidados. Dá para ouvir os estertores do doente terminal.
Não vi o filme ainda, mas, pelo trailer, dá para sentir a sua potência. Uma antropofagia da cultura moderna, é o que me parece. O cinema é o deus das artes, pois o alimenta a literatura.
Germinal.
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