domingo, 18 de agosto de 2013

Padrão

Padrão

O esforço é grande, e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para adiante naveguei.

A alma é divina, e a obra é imperfeita,
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o amor com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará em Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

(Fernando Pessoa)

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