Todos os anos, pelo menos uma vez por ano, eu me ponho a reler O Pequeno Príncipe, o clássico imortal e atemporal de Antoine de Saint-Exupéry. Já virou uma espécie de tradição a leitura anual deste livro - parte de minha vida. Não seria exagero chamar de ritual. Mas há uma razão para tudo isto. Explico.
Imaginem por um instante que nós vivemos sozinhos num asteroide. Algo parecido com o B-612, o planetinha natal do Pequeno Príncipe. Somos duros, secos, áridos como um asteroide. Estamos fixos em alguma parte do Universo; só a lei da gravidade nos faz companhia; por longos períodos, nada se nos passa por perto. Mas - eis o milagre da vida -, um belo dia, um Pequeno Príncipe pousa sobre a nossa superfície. Já pensaram nisto? Sozinhos no universo estamos nós, à maneira dos asteroides, até que, um belo dia, um Pequeno Príncipe vem morar sobre nossa crosta endurecida pelos anos de solidão no espaço sideral.
Um Pequeno Príncipe pode aterrissar no nosso asteroide. A partir daí, o que era morte passa a ser vida. De asteroide, passamos a astros maiores e mais brilhantes: sois, cometas e estrelas!
Vejam que, no nosso asteroide, sob os cuidados do príncipe, nasce a flor, que é vaidosa e seduz; revolvem-se os pequeninos vulcões, sem os quais não se esquentam comida e café; e, principal de tudo, combatem-se os baobás...
Um Pequeno Príncipe pode aterrissar no nosso asteroide. A partir daí, o que era morte passa a ser vida. De asteroide, passamos a astros maiores e mais brilhantes: sois, cometas e estrelas!
Vejam que, no nosso asteroide, sob os cuidados do príncipe, nasce a flor, que é vaidosa e seduz; revolvem-se os pequeninos vulcões, sem os quais não se esquentam comida e café; e, principal de tudo, combatem-se os baobás...
Quantos baobás vão no nosso asteroide? Quantos cresceram sem que nós nos apercebêssemos deles? Quantos agora pesam sobre o nosso asteroide, dificultando nosso movimento no Universo? Quantos são, quantos?
Convém admitir que muitos baobás devem nascer na crosta terrestre do que nós somos. Suas raízes estão lá dentro, na derme do asteroide. Os baobás são árvores gigantescas, capazes de "engolir" um asteroide pequeno como é o nosso. Portanto, temos que ficar atentos a eles. Basta que ponham o rostinho para fora e "zapt!": num átimo de segundo, cumpre-nos cortá-los fora! Pela raiz! É preciso não ter pena dos baobás e cortá-los logo pela raiz.
Convém admitir que muitos baobás devem nascer na crosta terrestre do que nós somos. Suas raízes estão lá dentro, na derme do asteroide. Os baobás são árvores gigantescas, capazes de "engolir" um asteroide pequeno como é o nosso. Portanto, temos que ficar atentos a eles. Basta que ponham o rostinho para fora e "zapt!": num átimo de segundo, cumpre-nos cortá-los fora! Pela raiz! É preciso não ter pena dos baobás e cortá-los logo pela raiz.
Vaidade, inveja, avareza, luxúria - quantos baobás?
O Pequeno Príncipe exorciza nossos baobás. É como um tratamento para a alma, uma terapia intensiva para os problemas da nossa alma.
O Pequeno Príncipe exorciza nossos baobás. É como um tratamento para a alma, uma terapia intensiva para os problemas da nossa alma.
Eu choro muito quando leio O Pequeno Príncipe. Choro pelo carneirinho na caixa, choro pelo rei que não tem súditos, choro pelo homem-cogumelo, choro pela raposa, choro pelo trigal, choro pela rosa, e choro por tudo mais que vai no livro. Choro pelos diversos pores-do-sol que O Pequeno Príncipe se permite.
Mas choro principalmente pelos baobás. Porque os baobás são cruéis. Eles aleijam o nosso asteroide. E me admira bastante quando eu pergunto a alguém: "Você já leu O Pequeno Príncipe?", e a pessoa responde secamente que "Já", como se O Pequeno Príncipe fosse um livro que se lê e depois se aposenta na estante, relegado à prateleira dos livros de culinária, viagens e turismo, hipismo, esportes náuticos, etc. Ou, o que é pior, quando fica esquecido por entre os livros de Direito... Não, não! Apaguemos logo esta imagem do nosso cérebro. Não queremos fazer chorar o nosso pequeno amiguinho.
O Pequeno Príncipe deveria fazer parte do receituário dos médicos, contra as doenças do corpo; dos psicólogos, contra as doenças da alma; dos filósofos, contra as doenças do corpo, da mente e do espírito.
Porque há asteroides cujo adulto simplesmente não consegue compreender a linguagem das estrelas.
O Pequeno Príncipe deveria fazer parte do receituário dos médicos, contra as doenças do corpo; dos psicólogos, contra as doenças da alma; dos filósofos, contra as doenças do corpo, da mente e do espírito.
Porque há asteroides cujo adulto simplesmente não consegue compreender a linguagem das estrelas.