terça-feira, 25 de setembro de 2012

Todos os anos, pelo menos uma vez por ano, eu me ponho a reler O Pequeno Príncipe, o clássico imortal e atemporal de Antoine de Saint-Exupéry. Já virou uma espécie de tradição a leitura anual deste livro - parte de minha vida. Não seria exagero chamar de ritual. Mas há uma razão para tudo isto. Explico.

Imaginem por um instante que nós vivemos sozinhos num asteroide. Algo parecido com o B-612, o planetinha natal do Pequeno Príncipe. Somos duros, secos, áridos como um asteroide. Estamos fixos em alguma parte do Universo; só a lei da gravidade nos faz companhia; por longos períodos, nada se nos passa por perto. Mas - eis o milagre da vida -, um belo dia, um Pequeno Príncipe pousa sobre a nossa superfície. Já pensaram nisto? Sozinhos no universo estamos nós, à maneira dos asteroides, até que, um belo dia, um Pequeno Príncipe vem morar sobre nossa crosta endurecida pelos anos de solidão no espaço sideral.

Um Pequeno Príncipe pode aterrissar no nosso asteroide. A partir daí, o que era morte passa a ser vida. De asteroide, passamos a astros maiores e mais brilhantes: sois, cometas e estrelas!



Vejam que, no nosso asteroide, sob os cuidados do príncipe, nasce a flor, que é vaidosa e seduz; revolvem-se os pequeninos vulcões, sem os quais não se esquentam comida e café; e, principal de tudo, combatem-se os baobás...

Quantos baobás vão no nosso asteroide? Quantos cresceram sem que nós nos apercebêssemos deles? Quantos agora pesam sobre o nosso asteroide, dificultando nosso movimento no Universo? Quantos são, quantos?

Convém admitir que muitos baobás devem nascer na crosta terrestre do que nós somos. Suas raízes estão lá dentro, na derme do asteroide. Os baobás são árvores gigantescas, capazes de "engolir" um asteroide pequeno como é o nosso. Portanto, temos que ficar atentos a eles. Basta que ponham o rostinho para fora e "zapt!": num átimo de segundo, cumpre-nos cortá-los fora! Pela raiz! É preciso não ter pena dos baobás e cortá-los logo pela raiz.

Vaidade, inveja, avareza, luxúria - quantos baobás?

O Pequeno Príncipe exorciza nossos baobás. É como um tratamento para a alma, uma terapia intensiva para os problemas da nossa alma.

Eu choro muito quando leio O Pequeno Príncipe. Choro pelo carneirinho na caixa, choro pelo rei que não tem súditos, choro pelo homem-cogumelo, choro pela raposa, choro pelo trigal, choro pela rosa, e choro por tudo mais que vai no livro. Choro pelos diversos pores-do-sol que O Pequeno Príncipe se permite.

Mas choro principalmente pelos baobás. Porque os baobás são cruéis. Eles aleijam o nosso asteroide. E me admira bastante quando eu pergunto a alguém: "Você já leu O Pequeno Príncipe?", e a pessoa responde secamente que "Já", como se O Pequeno Príncipe fosse um livro que se lê e depois se aposenta na estante, relegado à prateleira dos livros de culinária, viagens e turismo, hipismo, esportes náuticos, etc. Ou, o que é pior, quando fica esquecido por entre os livros de Direito... Não, não! Apaguemos logo esta imagem do nosso cérebro. Não queremos fazer chorar o nosso pequeno amiguinho.

O Pequeno Príncipe deveria fazer parte do receituário dos médicos, contra as doenças do corpo; dos psicólogos, contra as doenças da alma; dos filósofos, contra as doenças do corpo, da mente e do espírito.

Porque há asteroides cujo adulto simplesmente não consegue compreender a linguagem das estrelas.




segunda-feira, 24 de setembro de 2012


É contar os dias.





"Se mais de nós dessem mais valor a comida, bebida e música do que a tesouros, o mundo seria mais alegre."

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Humberto Costa, o cavalo paraguaio.

Humberto Costa... Cavalo paraguaio. Que estranha força leva este homem a ter tantos dessucessos nas eleições majoritárias? Seria sua voz, que lhe empresta um ar de fraqueza? Para quem não se lembra, seis anos atrás, Humberto concorria ao cargo de governador do Estado de Pernambuco e, a exemplo do que ocorreu este ano, partiu na disputa com larga vantagem sobre os seus concorrentes, que eram Mendonça Filho e Eduardo Campos. Resultado: não chegou nem ao segundo turno... Viu-se obrigado a assistir a vitória surpreendente do neto de Miguel Arraes, o qual, no início daquela campanha, não possuía sequer dez por cento das intenções dos eleitores e acabou vencendo Mendonça Filho no segundo turno!

Pobre Humberto.

O sucesso de Humberto nas eleições proporcionais infelizmente não se repete nas majoritárias. Para quem não sabe, chamam-se "proporcionais" as eleições para os cargos do legislativo (vereadores, deputados estaduais e federais e senadores [senador é majoritária]), enquanto que as eleições para os cargos do Executivo (prefeitos, governadores e presidente da República) são chamadas de majoritárias. Pois é, não me recordo uma derrota de Humberto para qualquer eleição proporcional. Vereador e deputado, o homem já levou tudo. Senador, também. Porém, quando se fala de Executivo... Parece que a sorte de Humberto se restringe a ser convocado para exercer os cargos de Secretário de Estado e Ministro de Estado.

Pobre Humberto.

Neste ano de 2012, tudo ficou ainda pior para a candidatura de Humberto Costa ao governo do Estado. Depois da lambança que o PT aprontou com João da Costa, o Recife parece ter insuflado um asco pelos petistas. Sinceramente, NINGUÉM mais suportava João da Costa à frente da prefeitura municipal. mas a maneira como o PT conduziu a retirada compulsória da sua candidatura à reeleição foi desonesta demais!

João da Costa foi certamente o pior prefeito da história dessa cidade (e olhe que Recife tem história). Um aborto político, um homem sem virtude, um goblin, um apêndice, um ponto fora, um nada.

Um aborto político, produzido no ventre do PT, tendo por pai e parteira o senhor João Paulo, que o indicou à sucessão, e hoje concorre a vice-prefeito na chapa "pura" do PT. Francamente, João Paulo tem culpa e muita na situação que Recife vive atualmente. Além de ter passado oito anos na prefeitura (2001-2009),  sem resolver o caos urbano (trânsito, saneamento básico, verticalização desenfreada, etc.), ainda nos deixou esse péssimo legado chamado João da Costa.

Em minha curta trajetória de vida, não me recordo de um prefeito que tenha sido alvo de tanta aversão por parte do povo como João da Costa, ou João Vira as Costas, como ficou apelidado nas redes sociais. Mesmo assim, a forma como o PT conduziu a "retirada" de João da Costa da reeleição para prefeito, substituindo-o por Humberto Costa, não pegou bem. Foi escandaloso demais, foi sujo demais. A traição foi grande demais para quem estava assistindo.

Quando Bilbo Bolseiro (nem quero imaginar que você não saiba quem é ele, leitor) partiu na aventura de matar Smaug pela sua quota do tesouro que o dragão roubara a Thorin Escudo de Carvalho, juntamente com o mago Gandalf e os outros doze anões, não esperava outra coisa senão uma aventura. Lá sabia o pequeno hobbit de coisa nenhuma?! Lá tinha cobiça no coração?!

Não tinha. Na verdade, a cobiça só espezinhou o coraçãozinho do hobbit quando ele pôs os olhos no tesouro, por sobre o qual dormia o dragão. Naquele momento, Bilbo desejou a fortuna, e aparentemente trocaria sua vida por aquilo.

O presidente Lula foi um covarde ao trair o povo brasileiro. O Partido dos Trabalhadores não tinha o DIREITO de fazer o que fez: roubo, crimes, traições, MENSALÃO, etc. A estrela solitária do partido vermelho se apagou, e junto com ela, o último suspiro de quem acreditava que Lula e cia. limitada escreveriam novas páginas nos livros de história.

Eis agora Lula, na capa da Forbes, ostentando uma fortuna avaliada em dois bilhões de Reais. Mentira, dirão os petistas. Mas onde há fumaça, há fogo. E para a Forbes divulgar uma fortuna dessas... Digamos que o presidente possua apenas trinta por cento desse valor. São seiscentos milhões de Reais. Quantia inexplicável para um presidente da República obter em oito anos. Confere?

O PT vai se acabar. Vai ruir. A ponta do iceberg já está aparecendo. A partir de agora, é uma questão de tempo até que o partido se derreta, como uma calota polar. Na enxurrada que se seguirá ao derretimento, muita sujeira vai correr. Que Lula ponha suas barbas de molho, se puder. Porque, creio eu, do jeito que as coisas vão, em 2014, se vier se engraçar para Presidente da República (te cuida, Dilma), é capaz de levar um revés e sair da política, definitivamente, pela porta dos fundos.

E se eu bem conheço a maneira de pensar dos petistas, eles devem estar argumentando o seguinte: estamos sendo indenizados. Mensalão é indenização. Estamos jogando com as armas da democracia burguesa. Fomos oprimidos por muito tempo, temos que nos capitalizar para poder lutar de igual para igual com as velhas elites. Mensalão é indenização. Estamos jogando o jogo da democracia burguesa.

Creio que é assim que os petistas têm comprado a sua consciência.

Humberto é um bom sujeito, mas já perdeu. Prova disto é que Lula e Eduardo Campos já estão juntos em São Paulo, tentando a todo custo levar Haddad para o segundo turno. Espero que não obtenham êxito, espero que o PT sofra as consequências da traição que cometeu contra quem lutou nas suas fileiras por um ideal de sociedade mais justo.

Pobre Humberto. Se seu Partido tivesse honra, talvez vencesse as eleições. Só um milagre agora o salva. Milagres daqueles que a gente vê nos filmes: só neles é que os cavalos paraguaios arrancam no último minuto e vencem a corrida. Mas eu espero que isto não aconteça. O PT não merece vencer essas eleições.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

De Geraldo Júlio: o bolo de mandioca.

No ano de 2007 - portanto a alguns semestres de me bacharelar no curso de Direito da Universidade Católica de Pernambuco, o que ocorreu em dezembro de 2008 -, eu e uma dezena de colegas formamos um grupo para disputar as eleições do Diretório Central dos Estudantes daquela universidade. Era uma época feliz da minha vida, talvez a mais efervescente em termos de atividade política que eu desenvolvi durante minha jornada universitária inteira. Naquele tempo, eu enfrentava polícia em protestos contra o aumento das passagens de ônibus (com direito a atirar bolas de gude na cavalaria, como se fazia na ditadura militar), participava de intermináveis debates políticos durante encontros de estudante e perambulava pelos bares do Recife Antigo (ou então no saudoso Empório Sertanejo), sempre em busca de me exercitar no processo dialético que eu acreditava ser capaz de conduzir à compreensão dos processos políticos que envolviam a nossa cidade.

Tempos felizes, repito, porque eu realmente acreditava na política como um caminho para a construção de uma sociedade mais justa.

Para quem não sabe, o Diretório Central dos Estudantes - ou DCE - é o órgão máximo de representação estudantil dentro de uma universidade. Enquanto os DAs representam individualmente cada curso (Direito, Jornalismo, Engenharia, Letras, etc.), o DCE representa a todos. Grosso modo, é como se os DAs fossem as Prefeituras e o DCE, o Governo do Estado.

Pois bem, as forças que me levaram a ser indicado para o cargo de presidente da nossa chapa me são um tanto alheias, até hoje. Saibam: uma série de fatores levam um sujeito a ser escolhido para encabeçar qualquer chapa para qualquer órgão (político ou não) de qualquer lugar do planeta. Há um jogo de interesses nisso, que quase nunca fica esclarecido entre os envolvidos no processo. Às vezes, o processo de indicação é natural, pelas qualidades do sujeito; às vezes, é imposto por um membro ou grupo de membros que têm mais força política dentro do grupo; às vezes, é auto-imposto pelo candidato; e às vezes, depende de uma extensa e habilidosa trança de negociações políticas.

Se a indicação do meu nome foi boa ou foi ruim, isto está além do meu julgamento. Pesava sobre mim a pecha de "direitista". O fato é que, no final das contas, perdemos, graças ao poder da outra chapa, que contava com o apoio do PT e do PCdoB. Em resumo, quem saiu ganhando foi o PT. Impressionado, descobri mais tarde que havia membros do PT não só na outra chapa (declarados), mas na nossa também (velados), o que me levou à insofismável conclusão de que o grande vitorioso naquela disputa estudantil, - quando sonhos estavam em jogo - foi o Partido dos Trabalhadores, o Partido que nunca dorme.

Fazendo uma ponte com a candidatura de Geraldo Júlio (PSB) às eleições municipais do Recife, acredito que sua indicação seja fruto da decisão da alta cúpula do PSB, partido que o governador Eduardo Campos controla em Pernambuco. E acho que a indicação foi coisa de última hora. Geraldo Júlio é um candidato de última hora, forjado às pressas no ferreiro, como uma espada de urgência para o governador, que esbanja poder na atual conjuntura da política em Pernambuco, poder empunhar.

Geraldo Júlio é uma espécie de bolo de mandioca: receita simples e rápida, colocado de última hora no forno para servir os convidados que decidiram fazer uma visita de última hora. No caso, o anfitrião é o governador, os convidados somos nós, o povo recifense, a cozinha são as dependências do PSB e a cozinheira... Bem, digamos que a cozinheira seja uma extensão dos tentáculos do nosso impossível governador, que parece ser o tipo de homem que bate o escanteio e sobe para cabecear, ou, como eu dizia acima, prepara a receita e ainda bota o bolo para cozinhar.

E o fermento é a imprensa, logicamente.

Está muito claro que Geraldo Júlio, por ser o candidato do governador, agrada. O governador está em alta. Some-se a isto o fato de Geraldo ser servidor público ocupante de cargo de provimento efetivo, ou seja, um "quadro técnico", coisa que agrada bastante à classe média e à juventude. Por isso, sempre que você ouvir alguém dizendo que Geraldo Júlio é um candidato-poste ou que ele só tem o mesmo discurso, saiba que isto é fruto do seu desconhecimento dos problemas da cidade do Recife. Quer dizer, Geraldo tem uma equipe por detrás dele, ensinando-o a se comportar como candidato favorito à vitória, então ele se vê obrigado a reproduzir certos discursos, por não ter o total conhecimento dos temas que englobam a administração de uma metrópole como é o Recife.

Aconteceu exatamente o mesmo comigo (guardadas as proporções) durante aquela eleição para o DCE. Eu sabia "alguma coisa", mas não tudo. Então, muita coisa me foi "ensinada" de última hora, para que eu tivesse condições de pelo menos duelas com meus concorrentes e debater sobre todos os temas polêmicos que cercavam o movimento estudantil na época.

O problema é que, lutar espada com samurai é meio complicado. E Geraldo Júlio está definitivamente entre samurais. Vamos ver se terá forças para ir até o final, ou sucumbirá à frieza e ao calculismo dos samurais que estão tentando o derrubar. Afinal de contas, o recifense sempre gostou de estar do lado do mais forte. No íntimo, esta cidade ainda gosta dos déspotas. Gosta de admirar os sujeitos que revestem sua aura com o brilho do poder quase absonito. Por isso, está se curvando à vontade do governador, que dardeja do Olimpo do Palácio do Campo das Princesas.

O medo que o governador inspira e a atmosfera semidivina que ele próprio criou ao seu redor é o grande trunfo de Geraldo Júlio para derrotar seu maior rival dessas eleições, o senador Humberto Costa. Ou seria o deputado Daniel Coelho?


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

É melhor ser gato ou ser cão?

Hoje de manhã, enquanto eu dirigia para o trabalho e folheava as rádios de ondas curtas da FM do meu som, parei na  estação Transamérica. Ia no ar um programa que me parece ser legal, às vezes eu o escuto. É uma espécie de bate-papo bem humorado entre os locutores, que são um homem e uma mulher, juntamente com os ouvintes, que ligam para a rádio para dar seus depoimentos, suas opiniões e suas vivências sobre o tema do dia. Vez por outra, vem um convidado ao programa. Hoje, havia um.

O convidado de hoje era o representante de um site de traição que está bombando por aqui. Isso mesmo. Um site para pessoas interessadas em cometer adultério. 

http://www.ashleymadison.com/

O slogan do site é bastante sugestivo e quase cruel: "A vida é curta. Curta um caso." São mais de 23 milhões de usuários anônimos (o anonimato é imprescindível) no mundo todo, sendo que no Brasil, eles já passam dos 800.000. Como diria um amigo meu, quem alivia cloaca de pato é lagoa.

Traição virou moda. Todo mundo quer saber de sexo.

Então, ontem, após a leitura do conto Gato Preto, de Edgar Allan Poe, cheguei à conclusão de que a diferença entre o cão e o gato é que o primeiro não espera a violência do ser humano, enquanto o segundo não duvida dela.

Os cães se surpreendem quando sofrem violência por parte dos humanos e os gatos, não. Em outras palavras, os cães confiam cegamente nos seres humanos, enquanto que os gatos, estes duvidam da nossa inocência a priori, a posteriori e ad infinitorum.

Eu tenho cá comigo que a traição é uma questão de cromossomo: há mulheres que carregam o gene da traição, assim como há homens que carregam o da cornidão. E vice-versa.

Compromisso?! Oh, não! Não me venha com essa conversa de cãozinho abandonado. Venha com a conversa molejante de um gato, que eu não quero complicações e melodramas.

Nesse sentido, eu me pergunto: num relacionamento, é melhor ser gato ou ser cão?




quinta-feira, 13 de setembro de 2012

- Vamos fumar um cigarro?
- Dá tempo não. Duda já tá no posto me esperando. Se quiser, tá aqui, vá fumar sozinho, na moral.
- Não. Presta não.
- Vá, brother.
- Presta não, meu irmão, vou acender essa desgraça como? Com o dedo, é?
- Tome o isqueiro, meu irmão.
- Quero não, meu velho. Fumar sozinho é ruim demais. Só presta fumar acompanhado.
- Rraaai!!!


Quem fuma, diz que tem três cigarros que são o pipoco:

1. Depois de fazer amor.
2. No banheiro.
3. Depois de comer.

xxx

- "Não esqueça a escova, o sabonete e o violãuuumm."
- Por que você gosta dessas frescuras, brother? Você não podia ser punk & rock, não?
- Já fui!
Canta Offspring e simula a gitarra.
- Você é escatológico, tá ligado?
- I o quê?
- Escatológico.
- Você é muito afrangalhado, brother.
- Mas você é escatológico.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Maximilien Marie Isidore de Robespierre - ou simplesmente Robespierre - entrou para a história como o líder sanguinário da Revolução Francesa.



Quero dizer aos amigos, antes de tudo, que Robespierre foi contra a pena de morte, quando ela foi votada durante a Assembleia Nacional de Paris. Derrotado, o líder dos jacobinos dirigiu toda a sua energia para tentar convencer seus pares a pelo menos adotarem a guilhotina, em substituição aos antigos métodos que prevaleciam há séculos, como, por exemplo, amarrar os quatro membros do condenado a quatro cavalos e mandar que eles andassem em direções opostas, mutilando, assim, o criminoso. Conseguiu. 

Não vou negar, porém, que Robespierre se valeu largamente do uso da guilhotina mais tarde. Não sou idiota. Pelo menos, é o que dizem os documentos, juntamente com os inimigos do nosso personagem. 

Para  Robespierre, a imputação da morte era injustificável, a não ser que houvesse uma causa maior que a justificasse. Há quem concorde com essa postura, e há quem discorde. Difícil é encontrar quem não concorde nem discorde.

Robespierre nasceu e morreu sem riqueza; advogado, promotor público e deputado, gozou do poder quase absoluto durante boa parte da Revolução Francesa. Poderia ter acumulado cargos e riquezas sem fim, como fazem a maioria dos "revolucionários". Mas, não. Mesmo quando chegou ao topo do poder, manteve-se fiel aos seus princípios e não traiu os ideais que sempre defendeu nas tribunas da Assembleia. Vejo glória nisto, peço licença a vocês para tanto.

E isto porque era vacilante, mirrado, hesitante e de feições felinas. Mesmo assim, chegou ao topo. Se tivesse a oratória de um Mirabeau... Quem sabe onde teria ido parar?

"Robespieristas e antirrobespieristas: afinal de contas, nos digam quem foi Robespierre", foi a frase que entrou para a história; porque, para os inimigos, tratava-se de um sujeito sem caráter, invejoso, oportunista e cruel; para os amigos, todavia, um ser-humano amável, virtuoso, simples e obediente a princípios valorosos.

Entretanto, apesar desta discórdia inconciliável, amigos e inimigos reconheciam em Robespierre uma qualidade que marcou para sempre o busto do francês de Arras: a incorruptibilidade. 

Robespierre: O Incorruptível.



Proveniente do que se pode chamar de classe média francesa, abandonado pelo pai ainda criança, já então órfão da mãe, que se casara grávida, o filho mais ilustre da província de Artois galgou todos os degraus do movimento social mais efusivo dos últimos dois mil anos. Mesmo assim, manteve-se eternamente pobre (mal tinha o de vestir e o de comer), reservou-se da luxúria, abdicou do poder e rejeitou as benesses da burocracia do Estado francês da sua época. Defendeu bandeiras como "o povo", a imortalidade da alma, a existência do criador e, é claro, a igualdade, a liberdade e a fraternidade.





E é por isso que eu digo: só a classe média produz revoluções e revolucionários. Nela, deve mesmo residir a esperança dos revolucionários. Faz todo sentido. E nem precisa ler O Capital e O Manifesto do Partido Comunista para chegar a esta conclusão. Basta conhecer o espírito da classe média, especialmente os conflitos que permeiam os ocupantes desta classe. É mais ou menos como se arrepiar ao ouvir a Internacional. É por aí.

Embora, é claro, eu não acredite mais em revoluções, posto que o mundo bem melhor vai ser construído sobre novas bases. Nada de reformas, nem de revoluções. Novas bases. Novo tudo.



domingo, 9 de setembro de 2012



Poucos relativos carregam, dentro de si, uma boa dose de verdade, neste plano.

Porém, há um relativo que (parece-me) carrega verdade cristalinamente solar demais ao nível do nosso amado planetinha. Tanto, que já virou clichê.

E como eu adoro clichês, do tipo "amo você", vou repetir esta verdade, este clichê, da maneira como o vejo e sinto: nada no universo é por acaso, e há pessoas que entram na nossa vida, enviadas diretamente pelo próprio Deus para nos encontrarem neste mundo e acionarem a força criativa que reside dentro de nós.

A esta coisa linda, absoluta, infinita e irrestrita, eu chamo de amizade.

E não sou o primeiro nem o último a chamar assim.

"Se você disser que vem às quatro, a partir das três, começarei a ser feliz."





quarta-feira, 5 de setembro de 2012

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Do retrato de um homem à beira da noite


As mulheres esperam que os homens sejam apenas homens; isto pode parecer uma conclusão banal, e se pareceu, ou você é uma mulher, ou você é um homem de verdade. Aliás, minto, permitam que eu corrija: esta conclusão jamais parecerá banal a uma mulher. Se a mulher fosse uma concha, a pérola seria exatamente esta conclusão a que acabo de chegar. Desejar que os homens sejam apenas homens abarca o arquétipo central do desejo de todas nós. Portanto, o mundo se divide em duas metades: de um lado, os homens que sabem o que as mulheres querem (estes são os que sabem amar) e, do outro, os homens que não sabem o que as mulheres esperam deles (estes são os que não sabem amar).

E há os casos mais graves, que são aqueles que acham que as mulheres não esperam nem deveriam esperar nada deles...

Se você não é um homem de verdade, você teme as mulheres e ponto. Você não é digno delas, do amor delas. Amar é um dom, e só os homens de verdade sabem amar. Requer prática e entrega. O amor, para um homem de verdade, acontece naturalmente, como o ciclo das marés. Ninguém precisa dizer ao mar: “está na hora de você recuar.” Nem tampouco: “agora é hora de avançar sobre a areia.” Não! – o mar sabe o seu dever. Ele simplesmente sabe, porque está dentro dele o conhecimento das marés. O mar sabe ir e vir, ir e vir, ir e vir... E rola sobre as conchas, acarinhando-as. E escorre sobre a areia e sobre as estrelas-do-mar... Ele simplesmente sabe o que fazer.

Que vem a ser um homem de verdade? - perguntará alguém. A resposta é simples: o homem de verdade é aquele que ama e respeita. Um homem de verdade tem vigor e este vigor decorre do seu princípio ativo de arrebentar fortalezas, manifestando-se na forma do amor por uma mulher. Sem melodramas, sem afetações. Vem, pega, beija, atira fora nossas roupas e sussurra baixinho no nosso ouvido as palavras certas, enquanto as mãos percorrem com delicadeza e lascívia todas as partes do nosso corpo. Tudo isto, enquanto nos ama. Depois, dorme. E nós... Dançamos no jardim das borboletas.

Assim é o homem de verdade. Assim ama o homem de verdade.

Quantos aos outros... Estes ignoram toda a verdade. A verdade de que o amor de uma mulher é uma ramificação do amor divino. E ignorando esta verdade, ignoram a nós, as mulheres. E nos tratam com indiferença. E então, das duas, uma: ou serão condenados ao exílio do amor (da própria felicidade!) ou então, serão traídos.

Ah, seus covardes, seus indignos, nós vamos lhe trair. Porque é inevitável, é lei eterna: será traído todo homem que tratar com indiferença a sua mulher.