segunda-feira, 17 de setembro de 2012

De Geraldo Júlio: o bolo de mandioca.

No ano de 2007 - portanto a alguns semestres de me bacharelar no curso de Direito da Universidade Católica de Pernambuco, o que ocorreu em dezembro de 2008 -, eu e uma dezena de colegas formamos um grupo para disputar as eleições do Diretório Central dos Estudantes daquela universidade. Era uma época feliz da minha vida, talvez a mais efervescente em termos de atividade política que eu desenvolvi durante minha jornada universitária inteira. Naquele tempo, eu enfrentava polícia em protestos contra o aumento das passagens de ônibus (com direito a atirar bolas de gude na cavalaria, como se fazia na ditadura militar), participava de intermináveis debates políticos durante encontros de estudante e perambulava pelos bares do Recife Antigo (ou então no saudoso Empório Sertanejo), sempre em busca de me exercitar no processo dialético que eu acreditava ser capaz de conduzir à compreensão dos processos políticos que envolviam a nossa cidade.

Tempos felizes, repito, porque eu realmente acreditava na política como um caminho para a construção de uma sociedade mais justa.

Para quem não sabe, o Diretório Central dos Estudantes - ou DCE - é o órgão máximo de representação estudantil dentro de uma universidade. Enquanto os DAs representam individualmente cada curso (Direito, Jornalismo, Engenharia, Letras, etc.), o DCE representa a todos. Grosso modo, é como se os DAs fossem as Prefeituras e o DCE, o Governo do Estado.

Pois bem, as forças que me levaram a ser indicado para o cargo de presidente da nossa chapa me são um tanto alheias, até hoje. Saibam: uma série de fatores levam um sujeito a ser escolhido para encabeçar qualquer chapa para qualquer órgão (político ou não) de qualquer lugar do planeta. Há um jogo de interesses nisso, que quase nunca fica esclarecido entre os envolvidos no processo. Às vezes, o processo de indicação é natural, pelas qualidades do sujeito; às vezes, é imposto por um membro ou grupo de membros que têm mais força política dentro do grupo; às vezes, é auto-imposto pelo candidato; e às vezes, depende de uma extensa e habilidosa trança de negociações políticas.

Se a indicação do meu nome foi boa ou foi ruim, isto está além do meu julgamento. Pesava sobre mim a pecha de "direitista". O fato é que, no final das contas, perdemos, graças ao poder da outra chapa, que contava com o apoio do PT e do PCdoB. Em resumo, quem saiu ganhando foi o PT. Impressionado, descobri mais tarde que havia membros do PT não só na outra chapa (declarados), mas na nossa também (velados), o que me levou à insofismável conclusão de que o grande vitorioso naquela disputa estudantil, - quando sonhos estavam em jogo - foi o Partido dos Trabalhadores, o Partido que nunca dorme.

Fazendo uma ponte com a candidatura de Geraldo Júlio (PSB) às eleições municipais do Recife, acredito que sua indicação seja fruto da decisão da alta cúpula do PSB, partido que o governador Eduardo Campos controla em Pernambuco. E acho que a indicação foi coisa de última hora. Geraldo Júlio é um candidato de última hora, forjado às pressas no ferreiro, como uma espada de urgência para o governador, que esbanja poder na atual conjuntura da política em Pernambuco, poder empunhar.

Geraldo Júlio é uma espécie de bolo de mandioca: receita simples e rápida, colocado de última hora no forno para servir os convidados que decidiram fazer uma visita de última hora. No caso, o anfitrião é o governador, os convidados somos nós, o povo recifense, a cozinha são as dependências do PSB e a cozinheira... Bem, digamos que a cozinheira seja uma extensão dos tentáculos do nosso impossível governador, que parece ser o tipo de homem que bate o escanteio e sobe para cabecear, ou, como eu dizia acima, prepara a receita e ainda bota o bolo para cozinhar.

E o fermento é a imprensa, logicamente.

Está muito claro que Geraldo Júlio, por ser o candidato do governador, agrada. O governador está em alta. Some-se a isto o fato de Geraldo ser servidor público ocupante de cargo de provimento efetivo, ou seja, um "quadro técnico", coisa que agrada bastante à classe média e à juventude. Por isso, sempre que você ouvir alguém dizendo que Geraldo Júlio é um candidato-poste ou que ele só tem o mesmo discurso, saiba que isto é fruto do seu desconhecimento dos problemas da cidade do Recife. Quer dizer, Geraldo tem uma equipe por detrás dele, ensinando-o a se comportar como candidato favorito à vitória, então ele se vê obrigado a reproduzir certos discursos, por não ter o total conhecimento dos temas que englobam a administração de uma metrópole como é o Recife.

Aconteceu exatamente o mesmo comigo (guardadas as proporções) durante aquela eleição para o DCE. Eu sabia "alguma coisa", mas não tudo. Então, muita coisa me foi "ensinada" de última hora, para que eu tivesse condições de pelo menos duelas com meus concorrentes e debater sobre todos os temas polêmicos que cercavam o movimento estudantil na época.

O problema é que, lutar espada com samurai é meio complicado. E Geraldo Júlio está definitivamente entre samurais. Vamos ver se terá forças para ir até o final, ou sucumbirá à frieza e ao calculismo dos samurais que estão tentando o derrubar. Afinal de contas, o recifense sempre gostou de estar do lado do mais forte. No íntimo, esta cidade ainda gosta dos déspotas. Gosta de admirar os sujeitos que revestem sua aura com o brilho do poder quase absonito. Por isso, está se curvando à vontade do governador, que dardeja do Olimpo do Palácio do Campo das Princesas.

O medo que o governador inspira e a atmosfera semidivina que ele próprio criou ao seu redor é o grande trunfo de Geraldo Júlio para derrotar seu maior rival dessas eleições, o senador Humberto Costa. Ou seria o deputado Daniel Coelho?


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