Primeira coisa: estão felizes por terem "cagado" a po%$#ra do Facebook de vez?
O Facebook é um atentado às relações humanas; as pessoas fizeram dele em troço depravado e indecente. Ele é o fim da linha. Ele se transformou numa selva de lixo cibernético e nós, em macacos informatizados, daqueles que atiram cocô nos turistas do zoológico. Ele se tornou um vaso sanitário internético.
Estou exagerando? Então Mark Zuckerberg também. Sim, porque ele foi o primeiro a dizer isto, e, não satisfeito em se lamentar em público (principalmente contra os brasileiros), vendeu quase todas as ações do Facebook. Só manteve o suficiente para continuar como gestor.
O Facebook está para Mark Zuckerberg assim como o avião está para Santos Dumont.
Segunda coisa: Lewandowski é a casa do cacete. Antes de ficar compartilhando que tem vergonha de ser brasileiro porque ele absolveu os mensaleiros, você deveria fazer uma autocrítica e se questionar a respeito de que talvez VOCÊ seja o ÚNICO responsável pela existência de todos os Lewandowskis que assolam esse país aqui.
O que você faz de útil para mudar a situação? Militou no movimento estudantil? Milita em algum movimento? Sabe o que significa o verbo militar? Classifica todos os filósofos como barbudos prolixos, mas nunca leu merda nenhuma deles? Conhece alguma coisa dos movimentos de base do seu país? Qual critério você utiliza para escolher seus candidatos? Tem certeza que não vai votar naquele vereador gente fina que dá cerveja no comitê? Nem no prefeito que vai descolar um cargozinho para a sua mãe, caso seja eleito?
Fala aqui no meu ouvido, fala.
Fala com o Batman, fala.
Vai pegar um avião e ir até Brasília, protestar na frente do STF? Quem sabe ao menos um telefonema, para desabafar com a assessoria de lá? Ou ao menos um e-mail? Ah, esqueci, você já está fazendo a sua parte; está compartilhando a foto do ministro, junto com a frase Luto Moral no Facebook. Quando chegar a 1.000.000 de "Compartilhar" aí... Aí... Aí, o quê, meu/minha amigo(a)? Vai dar em quê, vai acontecer o quê quando derem 1.000.000 de "Compartilhar"?
Em nada, colega. Vai mudar nada.
Você acha que outra parelha de Rousseau salvaria o nosso país? Não sonha com ele? Leu alguma coisa sobre a revolução americana? Ah, você lê a Veja e a Carta Capital, para "equilibrar" sua visão de mundo.... Mas alguma coisa de Hobbes, Platão, Marquês de Sade, Tocqueville e Nietzsche, você já leu? Não, né? Coisa de gente doida, frustrada, reprimida, "lisa" e pseudo-intelectual, né isso?
E nem vem com esse papinho de que não se envolve com política porque é tudo sujo. Se tá tudo sujo, pega o esfregão e a água sanitária, que para todo Mal, tem um Bem.
É isso...
É Lewandowski e Facebook para você, querido(a) amigo(a).
Sabe o que você faz? Sabe mesmo? Sai do Facebook, colega. Segura sua onda, engole sua carência, para de ser criança e começa a lutar por um mundo verdadeiramente melhor.
A bola tá com você. E aí? Vamos para o Norte, Sul, Leste ou Oeste? Enquanto você não tomar uma decisão e agir, o Lewandowski vai estar sorrindo e você, tomando você sabe exatamente o quê e onde.
Existe um Contrato vigente. Se os contratantes não exigem o cumprimento das cláusulas, os contratados agradecem.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Hoje, quando acordei, praguejei contra a hora e contra o cansaço. O sol ainda era novo no horizonte, quase há pouco é que haviam-se aberto as cortinas do céu para ele. Depois da maledicência, voltei atrás em pensamento. Vivo, o melhor tudo. Vivo.
Reclamar é clamar duas vezes, já disse o filósofo.
Assim como disse Sócrates: "Aconselho que se case.Se o faz será um homem feliz, se não o faz será filósofo."
Relacionamento é coisa difícil, ainda mais sem filosofia.
Quando é que nós haveremos de engolir filosofia e transpirá-la por todos os poros do nosso corpo, como os quadrúpedes que gastam fortunas com as prostitutas mais belas e mais dissimuladas da cidade? E quando é que as pessoas vão deixar de querer enganar as outras, ou disso tirar prazer, e ao contrário, ensiná-las a crescerem e se tornarem maior em tamanho?
A serem, cada dia mais, eles mesmos. Conhecer-se a si mesmo. E através de quem se ama, e a quem ama. Sem esquecer de tudo de amargo que vive em nós mesmo, por força de nada além da ignorância?
Sem hipocrisias. Seria possível?
Adorando tudo, e tudo transformando em poesia. Arriscando. Inovando. Lançando o gênio em cada recôndito da alma dos espectadores da vida.
Porque há os que tombam e há os que não tombam. Os sobre cujos ombros o próprio Deus depositou a responsabilidade de transmudar a realidade numa coisa qualquer de delicioso e contá-las aos homens.
Nelson, um forte abraço!
domingo, 19 de agosto de 2012
O preço que se paga,
Por ser tão diferente,
É de quando em quando em vez
Quedar-se isolado.
...
....
Um isolamento, que é frio e não é quente,
Como o mar que espera o rio,
Que é pai e mãe dos peixes;
Que este frio isolamento
Um dia se transforme
Em um outro isolamento...
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Jorge se acordou com uma sensação de febre revoltada. O corpo era uma brasa. Pensou que estivesse doente e levou as costas da mão direita ao pescoço, a fim de medir a temperatura. Estava normal. Sentou-se na cama, semi-acordado, e sentiu o medo correndo pelas suas veias. O coração estava aos pulos. De repente, um calafrio lhe pegou pela base das costas e foi subindo até a nuca. Jorge tremeu de frio. Desligou o ar-condicionado. Frio e calor. Atirou no chão a colcha que o envolvia e deu um salto da cama.
Já de pé, contemplou o mundo ao seu redor. Livros sobre a estante, alguns cigarros apagados no cinzeiro de vidro, um copo sujo por cima do laptop e algumas roupas displicentemente pousadas sobre a televisão.
Jorge tocou o pescoço mais uma vez, a fim de conferir a temperatura. Normal. Os calafrios também cessaram. Apenas o corpo ainda formigava. E a garganta ia um pouco ressecada.
- Êh, Jorge - gritou alguém de lá -, parece que o medo te apanhou durante a noite.
x
Jorge suspirou pesadamente e deixou-se cair na cama outra vez; antes, porém, acendeu uma vela e pediu a Deus que lhe arrancasse aquele medo que ia no seu coração. Depois, voltou a se deitar, e de volta à companhia de anjos e serafins, esqueceu-se de todo o pesadelo e caminhou levemente para dentro do seu sono.
E tudo isto aconteceu lá naquela nuvem, onde os anjos nos recebem quando nós estamos sonhando. E foi lá que eu lhe dei um abraço. E foi lá que eu me encontrei com ele e lhe disse assim: "Jorge, deixa da tua frescura".
Essa semana, Caetano Veloso fez aniversário. Completou setenta anos de idade. Cada dia mais bonito - ou menos feio, como prefiram. Porque se existe um homem a quem a velhice fez e ainda continua fazendo bem, pelo menos do ponto de vista estético, este homem é Caetano Veloso. Vejam:
Caetano Veloso, jovem. Feio. Ou obtuso, como ele mesmo diria.
Caetano Veloso, velho. Menos feio, mas não menos obtuso.
Faz muito tempo desde a primeira vez em que eu pus o primeiro CD de Caetano Veloso para tocar no micro sistem Sony preto que eu tinha no meu quarto. Eu era um menino de treze anos, mas me lembro muito bem de quando fui até o armário da sala e peguei "As vinte melhores de Caetano Veloso" para ouvir.
Você é linda foi o início de uma relação artística que se prolongaria por muitos anos. Evidentemente, meus amigos me perturbavam muito porque eu ouvia Caetano Veloso. Sempre que entravam no meu quarto e eu estava ouvindo, era de tirar meu couro. Os delicados adjetivos que passaram a me dirigir, a partir de então, variavam de bicha a romântico, e passaram a tirar o meu sossego no colégio. Davam-me tapas na cabeça e cantarolavam versos que tinham memorizado de tanto me verem ouvi-lo. E, é claro, sempre buscavam me embaraçar diante das moças. Mas o que eles não sabiam é que meu sucesso (???) diante das meninas se devia, em grande parte, à sensibilidade de escutar Caetano Veloso quando quase todo o mundo só ouvia forró, rock, e aquelas músicas de axé que infestavam o país na nossa adolescência.
Caetano rapidamente se tornou um símbolo para mim e eu, um símbolo dele para a escola. "Lá vai o menino que escuta Caetano" ou "não fala mal do Caetano na frente dele" se tornou muito comum de se ouvir. Eu realmente amava o cara. Mas tive que ocultar essa quase dependência que se formou com a arte dele. Me tornei então uma espécia de beduíno clandestino, um traficante solitário da Música Popular Brasileira, um refugiado das ilhas de que fala Drummond em seu Mundo Grande.
Mas meu destino já estava selado. Tal qual o motorista que freia o carro a 100 metros do abismo e não consegue evitar a queda de ambos, estava escrito que o meu encontro com a música daquele baiano esquisito marcaria definitivamente o meu ideal artístico e nortearia a compreensão nem sempre fácil de como o mundo é e de como os sentimentos funcionam no nosso aparelho humano. Caetano passou a ser a sublimação das horas vazias da minha adolescência e abriu as portas para a música popular brasileira para mim. Depois dele, vieram Chico Buarque, Djavan, Maria Bethânia (sua irmã), Gilberto Gil, Tom Zé, Tom Jobim, Jards Macalé, Orlando Silva, Vinícius de Moraes, a velha guarda do samba, Nara Leão, Elisete Cardoso, Jorge Ben, Raul Seixas, entre outros. E, é claro, o seu mestre maior, e talvez meu também; o grande arquiteto da Bossa Nova, o obtuso-rei, o chato de galochas, o caramujo, o desafinado: João Gilberto.
Mas foi ele o astro que desencadeou em mim o processo; foi ele quem colocou as primeiras pedras e pavimentou o caminho para os meus primeiros passos na humilde caminhada pela música e pela literatura e pela arte de um modo geral.
Foi Caetano Veloso.
Foi ele também quem embalou meus romances, pelo menos os mais significativos. Alguns mais, outro menos. Vejamos se não é verdade:
Você é linda, com M. Um relacionamento tão bonito, cheio do platonismo caetânico tão particular de mim, que não se concretiza porque é tão bonito e tão perfeito que se nega à mácula inevitável dos cinco sentidos.
Leãozinho, com A. E mesmo apesar de tudo, eu nunca deixei de ouvi-la, embora já não tenha mais o leãozinho que ganhara de presente e que causou frenesi na turma inteira. E ainda existem a música, o cantor e... Isso é muito evocativo.
Queixa e O Quereres, com C. Toda a sensualidade daquele pequeno milagre em forma de mulher se condensaram nessas duas músicas eróticas de Caetano.
Rapte-me Camaleoa e Magrelinha, com A. Falávamos disso ontem mesmo. Como nos divertimos! Porque A. era minha cúmplice no amor por Caetano.
Caminhos Cruzados, de Tom Jobim, na voz de Caetano, com M. M., você não entendeu.
Eu não me arrependo de você, com C. Foi ela que cantou primeiro. E eu peguei a canção para nós.
Nosso estranho amor, com T.
E folgo em dizer que foi Nine out of ten que embalou o romance de Papito e Tuca, que se casaram recentemente e que tiraram uma foto em Portobello Road quando estavam na Europa!
E nisso se vai Língua, com a minha paixão pela Língua Portuguesa; e Almodóvar e Glauber Rocha, no cinema; e Sem Lenço, Sem Documento e London, London, contra a ditadura; e os poetas concretistas; e até mesmo Sozinho, de Peninha, quando o grande público passou a pedir para ouvi-lo nas rádios.
Pois é... Na alegria e na tristeza, lá sempre esteve Caetano Veloso. Nunca tive o prazer de encontrá-lo pessoalmente, e quando sonho em ser escritor, uma das coisas que mais desejo é na possibilidade de, reconhecido como artista, conhecer meus ídolos da arte. E um deles é Caetano.
E hoje, no dia dos pais, ao lado do meu velho pai, Ailson Antônio Santos Malheiros, que não escuta Caetano (meu pai nunca sai de Placido Domingos e Julio Iglesias), eu saúdo Caetano Veloso também como um pai. Pois eu só consigo compreender a vida através da arte. Assim, tenho alguns pais nessa jornada. E Caetano é um deles.
Semana passada, eu estava no Rio de Janeiro. Tomei o avião de volta para Recife na terça-feira. Às onze horas da noite com mais 36 minutos, eu e mais uma centena de passageiros estávamos fora do solo. Voamos. Desconfortável, digo-lhes, conforme. Não somos pássaros. Os sonhos voam mais fácil.
Viajar de avião é para mim sempre um alumbramento. Fico impressionado. Há circunstâncias nesta vida que me fazem comportar como uma criança. Uma delas é viajar de avião. Quanta gente há neste mundo! Da hora em que eu entro pela porta de vidro de um aeroporto até o minuto que eu saio pela do outro, é um contentamento infantil.
Corre em mim certa substância divina, como corre pelo caule das árvores a seiva bruta que vem do solo e segue em direção às flores. Fico perplexo, vigilante, confiante. Deusificado.
Nesta última viagem, sentou-se do meu lado um sujeito enjoado. Trajava calças jeans, camisa de botões listrada, ensacada por dentro, cinto e sapatos pretos e um relógio com pulseira de aço e uma enorme circunferência que lhe encobria o punho quase inteiro. Não chegara ainda aos quarenta anos de idade. Seus cabelos começavam a cair, e as falhas no couro cabeludo já eram bem visíveis. A pele era um pouco desgastada, certamente por conta da exposição excessiva aos raios solares dos trópicos. Tinha, em resumo, o perfil de um contribuinte individual do INSS: casado, um tanto grosseiro, pouco educado, desconfiado, alheio aos Novos Baianos e inseguro quanto à originalidade da Bossa Nova, descrente dos anjos, católico por vocação, ex-fumante, bebedor de cerveja, comedor de cuscuz com leite, artilheiro da pelada de domingo e amigo do cara do almoxarifado da empresa.
Não era o tipo de pessoa que eu queria que se sentasse ao meu lado no voo, Deus que me perdoe. Francamente, a gente sempre espera que alguém legal se sente do nosso lado nas poltronas dos aviões, correto? Porque... Já pensou se ele cai? Ou se enfrenta uma turbulência grande, daquelas que parece que o avião acaba de passar por cima de uma lombada de nuvem?
Não, não! Importante estar junto de alguém legal nessas horas, principalmente quando estamos viajando sozinho.
Resumindo, a aura do cara não bateu com a minha. E, para piorar, o danado se pôs a roncar. Roncar, sentado, ao meu lado... Quase meia-noite, sobrevoando a Guanabara, umas saudades no peito, umas belezas ainda coladas nas retinas, uns perfumes entranhado nas narinas, e por fim, um Sándor Márai devastador no colo, querendo e não querendo ser lido, por muito temor pelos personagens, que já tinham ganhado vida e cujos destinos agora se haviam cruzado com o meu... E o sujeito, roncando do meu lado. Shit!
Diante daqueles roncos terríveis, instintivamente me virei de lado, bastante irritado. Minha fileira era a do lado direito. Assim, quando girei o pescoço na direção da fileira esquerda, lá estava a minha pérola. Meus olhos foram dar direto nela. Na mesma hora, os roncos e o seu dono ao meu lado, como que num passe de mágica, sumiram. De onde era aquela moça? Bolívia, Peru ou Equador. Colômbia, talvez. Não era brasileira, isso eu sabia com certeza. E era andina. Como era! A serenidade da Cordilheira lhe escapava pelos poros da pele achocolatada dos Andes. Os olhinhos puxados e os dentes em viaduto confirmavam. Era andina.
Presa nos elos da sua jaquetinha barata, cor de marfim com listras negras no ombro, a mocinha, que não era nem bonita nem feia, chorava dolorosamente. O corpo se sacudia inteiro aos soluços desesperados do choro, enquanto ela estendia o olhar faminto pela janelinha do avião. As lágrimas refletiam a luz da Guanabara, imitando as águas da baía. O rosto se contorcia inteiro diante da dor da partida. Que deixava aquela moça no Rio de Janeiro? Um filho, talvez. Um amor, com certeza. E raízes, com toda certeza desse mundo. Ali estava uma plantinha dos Andes, longe de casa, alçando voo para algum lugar distante, e se afogando em lágrimas de saudades lancinantes.
Mocinha andina, mocinha andina... Eu conheço aquela dor. Aquela dor de quem se separa do amor.
E eu te amei, do fundo do coração, como amo todos aqueles que, como eu, já sofreram com a dor de se separar de um grande amor.